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12
fevereiro
2013

É da turma de Noel!

ANDERSON BALTAR

Em um carnaval marcado por erros, em que grandes escolas falharam em quesitos onde sempre tiveram supremacia, não existe outra possibilidade de resultado: Vila Isabel campeã. A escola do bairro de Noel fez um desfile empolgante, impulsionado por uma obra-prima em forma de samba-enredo. Rosa Magalhães deslumbrou a avenida  com um belo visual – desmentindo a turminha do Big Brother de barracões, que ainda não entendeu que alegoria é feita para se ver na avenida, de preferência depois que os carros fazem a curva da concentração.

Quem deve estar com um gosto amargo na boca é a turma de Nilópolis. Com um visual espetacular – de longe, o melhor dos últimos 10 anos -, um samba empolgante e a tradicional evolução messiânica, a Beija-Flor parecia galopar, com ligeira tranquilidade, em ritmo de trote, para mais um campeonato. Tudo ia bem até o sétimo carro alegórico apresentar problemas no Setor 1, demorar para entrar na avenida e causar o maior buraco já visto nos últimos carnavais – em torno de dois setores. O incidente comprometeu a evolução da escola, que teve que ter fôlego de jóquei para chegar no tempo. Outro problema que deve ser observado pela Comissão de Obrigatoriedades: este mesmo carro entrou na avenida desacoplado e, desta forma, a escola desfilou com nove alegorias – uma a mais do que o regulamento determina. Assim, a Beija-Flor deverá ser penalizada em um ponto.

A Mangueira estava pronta para calar a boca de muita gente – que salivava ao falar das agruras de seu barracão. Surpreendentemente, a verde e rosa veio muito bonita. E empolgada, como sempre. Apesar do enredo confuso – e que irritou os cuiabanos, que não gostaram de serem mostrados para o mundo como um povo que parece viver no meio da selva -, a escola fazia um desfile que a credenciaria certamente para a disputa. Porém, a megalomania de seu presidente a prejudicou. A tresloucada ideia de duas baterias detonou o desfile. A manobra até que deu certo nas duas primeiras cabines de jurado. Porém, na metade final do desfile, foi uma tragédia. Quem estava nas alas finais não ouviu absolutamente nada e a escola se calou. Era impossível saber em que parte do samba os intérpretes estavam. Uma situação lamentável e totalmente evitável,  coroada com problemas de carros na dispersão que arruinaram, de vez, o carnaval mangueirense. Uma lástima.

Outras virtuais favoritas enfrentaram percalços. A Tijuca errou demais e se atrapalhou com o gigantismo de seus carros, que comprometeram seu desfile. A comissão de frente não mostrou o impacto de anos anteriores e o samba não aconteceu. O Salgueiro desfilou de forma técnica, sem emocionar. Seus componentes demonstraram claramente não terem comprado a ideia do enredo – e isto é determinante para a explosão da vermelho e branco na avenida. A Portela, com um chão fabuloso, uma bateria espetacular e um samba valente, ficou pelo caminho pelos problemas de visual – mas deve voltar nas campeãs.

Quem surpreendeu foi a Imperatriz Leopoldinense. Em curva descendente nos últimos anos, apresentou-se muito bem com o enredo sobre o Pará. O samba funcionou e o chão da escola evoluiu como há muitos anos não se via. Dirigentes e componentes, de olhos marejados, desfilavam confiantes e serenos, certos de um bom resultado. Que virá, apesar do problema com o quinto carro, que comprometeu a evolução no terço final da avenida. A “Certinha de Ramos” está de volta. E isso é um perigo, especialmente em um carnaval em que as favoritas erraram tanto…

União da Ilha fez o que se esperava: jogou fora  o talvez mais belo conjunto visual de sua história com um samba escolhido equivocadamente. Combinado a uma bateria excessivamente cadenciada e nada audaciosa, fez a escola se arrastar na avenida. Uma pena. Já está longe o tempo em que a tricolor insulana fazia a arquibancada tremer. A São Clemente decepcionou em seu desfile sobre as novelas. Um enredo tão presente na vida do brasileiro médio foi interpretado apenas com a ajuda do roteiro de desfiles. O samba não funcionou.

Mocidade Independente de Padre Miguel mostrou que, se não fosse a sua bateria (que tocou como não fazia há anos) e seu chão, estaria em maus lençóis. O enredo sobre o Rock In Rio, que mostrava-se frágil em seu argumento, revelou-se uma tragédia na avenida. Ininteligível, com soluções que beiravam o trash (como as caveiras com microfone, em homenagem ao Sepultura!), causou em quem ama o carnaval uma profunda tristeza. Como uma escola que já teve Fernando Pinto e Renato Lage e fez “Tupinicópolis” e “Chuê, Chuá” chegou a tal lugar? É preciso respeitar uma das maiores marcas do carnaval carioca.

Grande Rio e Inocentes fecham a fila. A escola de Caxias realizou seu pior desfile desde o inacreditável carnaval da camisinha e merece brigar para não cair. Porém, ela conta com o eterno beneplácito dos jurados. Um dos enredos mais equivocados da história. Fraco no argumento e totalmente perdido no desenvolvimento. Como acreditar nos benefícios dos royalties do petróleo se o desfile é encerrado com a destruição do meio ambiente? Os estados não-produtores agradecem o anti-marketing da (justa) causa fluminense. Já a Inocentes fez o que pôde. Mas desfilou apenas protocolarmente, parece que sabendo que dificilmente fugirá do rebaixamento.

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