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08
outubro
2017

Arlindo Arlequinal, 30 Anos sem o Arlequim do Carnaval

JOÃO GUSTAVO MELO

Há 30 anos, na tarde de 8 de outubro de 1987, Arlindo Rodrigues foi fazer o carnaval lá no céu. E deixou aqui na Terra aquela sensação de “fica mais um pouco, não vai agora, ainda tem muita escola por fazer”. O Brasil perdeu um dos seus grandes artistas, sendo que na Avenida ele bordou o melhor setor do enredo da própria vida. `

Para lembrar dessa grande personalidade do carnaval e da vida artística brasileira, trazemos dez notas curiosas sobre Arlindo, o carnavalesco nota DEZ!
Skindô!

1 – Em 1958, Arlindo Rodrigues concorreu à disputadíssima decoração do Baile do Theatro Municipal com o projeto “Alegoria Carnavalesca”. Ficou em terceiro lugar. O vencedor foi o amigo e mestre Fernando Pamplona.

2 – Em junho de 1958, Arlindo teve o projeto de cenários e figurinos da ópera “O Barbeiro de Sevilha” selecionado para o VII Salão Nacional de Arte Moderna, na seção “Arte Decorativa”.

3 – Ao vencer o concurso de decoração do Municipal em 1959, com “Arlequinadas”, Arlindo disse ao Jornal do Brasil o que faria com o prêmio de 70 mil cruzeiros: “comprarei muitos livros sobre cenografia e darei um jantar para os amigos”. O projeto, ao todo, custaria um milhão e quatrocentos mil cruzeiros, valor suficiente para comprar um apartamento de dois quartos no Leblon. Com um projeto arrojado e elogiadíssimo, “Arlequinada” inovou ao utilizar plástico na confecção dos adereços.

4 – Em 1959, Arlindo Rodrigues trabalhou nos figurinos da revista “De Cabral a JK”, estrelada por Marília Pera, no palco do João Caetano. Pamplona foi o responsável pela cenografia.

Anjo arlindo5 – Arlindo também foi inovador na criação visual dos desfiles das escolas de samba. Segundo o professor Felipe Ferreira, do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em depoimento no livro “Estrela que me Faz Sonhar”, da jornalista Bárbara Pereira, algumas novidades trazidas ao carnaval pelo artista são vistas até hoje: “a organização sequencial historiada do desfile e a unidade visual do conjunto de alas; placas de acetato, fitas metaloides geralmente trabalhadas em cabochão, flores, carambolas e outros arranjos; recursos como utilizar alegorias com cores contrastantes das alas, para destacar os carros alegóricos sem necessidade de crescê-los em tamanho” estão entre as contribuições de Arlindo para as escolas de samba.

6 – Em 1970, Arlindo elaborou o projeto de decoração para a avenida Presidente Antônio Carlos, batizado de Patropi, tendo como coautores Isa Pacheco e Joãosinho Trinta.

7 – Após vencer o primeiro carnaval fora do útero salgueirense, em 1979, Arlindo disparou contra o discurso do enredo de Joãosinho Trinta daquela ano, “O Paraíso da Loucura”. “Só temos de temer a megalomania dos que querem transformar o Carnaval em absurdo (…). Prefiro fazer um enredo caretão, Desobrimento do Brasil, a buscar inspiração em Bosch”. Sobre a relação com o componente, Arlindo mostrou que sua arte estava a serviço do desfilante. “O meu trabalho deve ser bom, bonito, para ganhar, mas respeitando as características das escolas de samba, das raízes brasileiras e das pessoas, para que elas possam desfilar numa boa, não apenas em uma exibição puramente minha”.

8 – Mas o que fez Arlindo Rodrigues ir parar na União da Ilha do Governador em 1986, depois de passagens pelo Salgueiro, Vila Isabel, Mocidade e Imperatriz Leopoldinense? A resposta está no livro “Os Porões da Contravenção”, dos jornalistas Chico Otávio e Aloy Jupiara. Arlindo fora o carnavalesco campeão do desfile de 1979 da Mocidade Independente, cujo presidente na época era Osman Pereira Leite, então aliado do famoso contraventor Castor de Andrade. Depois de desavenças com Castor, Osman aportou na União da Ilha em 1985, unindo-se a Marco Aurélio Corrêa de Mello, o Marquinho, filho do Raul Capitão, um dos chefões do bicho no Rio. Osman adorava Arlindo. E queria levar a tricolor insulana em 1986 ao título, assim como fez com a Mocidade em 1979. Apesar do belíssimo desfile com o enredo “Assombrações”, a Ilha ficou em quinto lugar.

9 – Arlindo morreu às 16h10min do dia 8 de outubro de 1987, vítima de embolia pulmonar. A médica infectologista Dirce Bonfim não confirmou, nem desmentiu que a enfermidade tenha sido causada por complicações decorrentes do vírus HIV, uma das “Assombrações” trazidas no desfile da União da Ilha de 1986. O enterro, realizado no cemitério São João Batista, foi acompanhado por diversos artistas da folia, entre eles o carnavalesco Geraldo Cavalcante, que o definiu como “O Arlequim do Carnaval”. Segundo o Jornal do Brasil, um dos mais emocionados durante o velório foi o carnavalesco Joãosinho Trinta, que teve que ser amparado em alguns momentos por Geraldo Cavalcante e pelo maquiador Guilherme Pereira. O caixão desceu à sepultura ao toque consternado do surdo do amigo de tantos carnavais Mestre Louro, do Salgueiro.

10 – O enredo da Mocidade Independente, “Vira, Virou, a Mocidade Chegou”, seria, pela vontade de Castor de Andrade, uma grande louvação a Arlindo Rodrigues. Renato Lage e Lílian Rabelo ampliaram o tema e incluíram diversos nomes que fizeram parte da história da agremiação, entre eles o genial Fernando Pinto, morto em um acidente de carro menos de dois meses depois de Arlindo. Duas tragédias coincidentes que completam 30 anos e que marcaram para sempre a história do Carnaval carioca.

A Arlindo Rodrigues, um dos maiores criadores da arte brasileira, nossa eterna devoção. Salve o divino arlequim.

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