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19
julho
2016

A Beija-Flor de Ramos

ALEXANDRE MEDEIROS

alexandre-medeirosÉ ela…
maravilhosa e soberana,
de fato nilopolitana,
enamorada deste meu país.

Mesmo para quem não torce pela escola, é bonito sentir e ver o orgulho que a Beija-Flor tem da sua origem, estampado logo nos primeiros versos do seu hino informal “Deusa da Passarela”, de autoria do grande Neguinho da Beija-Flor.

E esse orgulho certamente foi muito reforçado ao longo dos anos pelo reflexo de suas várias batalhas para sobreviver. Dentro das histórias de vida das escolas de samba do Rio de Janeiro, os caminhos que transformaram a Beija-Flor, de um simples bloco carnavalesco do município de Nilópolis, na Baixada Fluminense, na “Deusa da Passarela” de hoje, foram dos mais tortuosos, polêmicos e gloriosos das agremiações que pisam na Passarela do Samba.

A luta das escolas vindas de outros municípios fluminenses por um lugar no Carnaval carioca não foi fácil. Agremiações “estrangeiras” como a extinta Cartolinhas de Caxias já pelejavam desde os anos 50 por um quinhão no desfile da capital. Mas foi só anos depois que a história mudou, por causa de uma crise e uma ideia brilhante.

No início dos anos 70, o Governo do Estado da Guanabara – que compreendia todo o município da Cidade do Rio de Janeiro – começou a implicar com o fato da Associação das Escolas de Samba do Estado da Guanabara (AESEG) repassar a verba que era destinada para os desfiles na cidade maravilhosa não só para as escolas cariocas, mas também para as escolas oriundas do Estado do Rio de Janeiro.

Já reconhecendo o valor da participação das agremiações fluminense no Carnaval carioca e por temer que tal implicância acabasse por minguar essas escolas, o então presidente da AESEG, o grande Amaury Jorio, teve uma ideia simples e genial para driblar o imbróglio: transferir as escolas fluminenses para a cidade do Rio de Janeiro! Assim, a Beija-Flor transformou-se (de fachada, claro) numa escola carioca, passando a ter a sua sede administrativa na Rua Euclides Farias 22, no bairro de Ramos e sua sede recreativa em Nilópolis. Por isso que constam estes dois endereços timbrados neste diploma que trago para a coluna de hoje.

diploma-beija-florEste título, oferecido ao radialista Haroldo de Andrade (que tinha um programa de grande sucesso nas manhãs da Rádio Globo AM), apesar de não datado – o espaço ficou em branco, ao lado da assinatura do então presidente Nelson Abraão David – nos leva a crer que tenha sido de 1974. A expressão “Sambista do Futuro” certamente remete ao enredo “Brasil ano 2000”que a escola desfilou naquele ano. Enredo este que ficou maculado como enredo “chapa branca” e que tantas críticas trouxeram a escola.

Essa fase carioca da Beija-Flor acabou por não durar muito tempo. Em 1975, com a fusão do Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, a implicância teve fim e a escola pode reassumir a sua identidade nilopolitana.

Ah, quer saber o porquê a sede administrativa ficava na Rua Euclides Farias 22? É que neste endereço ficava justamente a residência de Amaury Jorio, que generosamente a cedeu para concretizar a sua ideia malandra.  E vale lembrar que a casa de Amaury é um local histórico. Foi lá, na noite reluzente do dia 6 de março de 1959, que aconteceu a fundação da Imperatriz Leopoldinense… mas isso é papo para uma outra coluna.

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