Jack Vasconcelos conta enredo do Tuiuti

ANDERSON BALTAR

A Paraíso do Tuiuti anunciou, nesta quarta-feira (21), o seu enredo para o Carnaval 2015: “Curumim chama Cunhantã que eu vou contar…”. Assinado por Jack Vasconcelos, o desfile da escola de São Cristóvão enfocará as viagens de um explorador alemão que se transformaram no primeiro best-seller da história da literatura: Hans Staden. O carnavalesco conversou com a Rádio Arquibancada e contou detalhes do desenvolvimento do desfile da Tuiuti – que também confirmou a contratação do coreógrafo Júnior Scapin para a comissão de frente.

Como surgiu a ideia do enredo?

Eu tenho essa ideia há muito tempo. Eu tenho três edições do Hans Staden e a primeira vez que li, foi quando criança, quando li a versão do Monteiro Lobato. Desde o início de minha carreira eu sonhei em trazer esse tema e  agora encontrei um presidente que topou.

Você apresentou este tema a outras escolas?

Na Viradouro e na Estácio. Esse é um enredo como o Júlio Verne, que fiz na Ilha e que tinha há muito tempo na mente. Eu tenho vários temas engavetados desde o início da carreira, mas nem sempre a gente pode colocar na avenida devido a interesses comerciais das escolas – que hoje em dia são preponderantes na escolha de um enredo. E isso não é crime, especialmente no Grupo de Acesso. Tem que se buscar patrocínio mesmo, apesar que, em muitas vezes, escolhe-se um enredo ruim e o dinheiro não vem. Agora, consegui colocar esse enredo. A Tuiuti tem a característica de enredos culturais e não tem patrono. Apesar das dificuldades financeiras, a escola tem uma preocupação bacana com o enredo, em ter um bom samba. Isso é legal. E é uma oportunidade para mim, já que, em dez anos como carnavalesco, é a segunda vez que consigo emplacar um tema autoral.

Na outra vez em que você conseguiu fazer um enredo autoral, a Ilha foi campeã. Será um bom presságio?

Tomara que seja. Aposto muito no enredo.

Como será a narrativa do enredo?

Hans Staden fez duas viagens ao Brasil. A primeira, em 1549, numa expedição portuguesa e ficou em Pernambuco. Na segunda vez, veio em uma expedição espanhola, que queria explorar o Rio da Prata. Porém, este navio afundou em Santa Catarina. Ele foi para São Paulo e, em Bertioga, foi capturado pelos índios tupinambás e ficou nove meses preso, enquanto era engordado para ser devorado. Então, ele meio que virou um bicho de estimação daquela tribo. Nossa narrativa é sobre esta segunda viagem, sobre este intercâmbio cultural forçado que ele passou, até conseguir fugir em um navio corsário francês e escrever o livro, que foi o primeiro best seller da história da literatura, em um momento em que praticamente não havia mercado editorial. À época, ele foi traduzido para mais de dez línguas.E foi o primeiro livro pirateado da história. Em Frankfurt (Alemanha), foi feita uma edição recontando a história e trocando os índios por árabes.

O enredo então é baseado na segunda viagem e nos seus desdobramentos.

Sim. Vamos lembrar essa história e contar tudo o que ela inspirou, como o movimento modernista, com o Manifesto Antropofágico, que é inspirado em Hans Staden. Vamos abordar também o Cinema Novo, com o filme “Como Era Gostoso o Meu Francês”, falar de Monteiro Lobato, que adaptou o livro para as crianças, dos desenhos de Portinari, que fez 16 desenhos sobre Hans Staden.

Em que pé está o trabalho?

A pesquisa está praticamente finalizada e já desenhando há um mês . Queremos aprontar o carnaval o quanto antes. A Tuiuti é uma escola que tradicionalmente se planeja com antecedência e eu quero continuar com esse ritmo de trabalho.

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