Leia a sinopse do Cubango

Cubango, a realeza africana de Niterói.

“Uma peculiaridade que eu acho é este nome Cubango. Pelo pouco que nós sabemos, aqui viveram escravos que vieram de uma  pequena cidade , de uma província de nome Cubango, na África.”

(Sr. Francisco, ex-presidente da GRESA Cubango – Livro o Candomblé e o Lúdico – Maria Alice Rezende Gonçalves)

 

Sinopse

Em busca da ancestralidade africana

África, esse continente que foi o grande berço da humanidade e da civilização, é sem sombra de dúvidas a grande matriarca da comunidade do Cubango em Niterói. Histórias orais revelam que a origem do próprio nome já representa o caminho a seguir na busca de sua identidade no Continente Africano.

A região de Cubango, hoje pertencente a Angola, fazia parte do grande Império Negro do Congo. O império era governado por um monarca, o Manicongo, que possuía uma grande área de influência na África.

Fundado por volta do século XIV, esse Estado centralizado congregava vários grupos da etnia banto. A principal atividade econômica dos congoleses envolvia a prática de um desenvolvido comércio.

O povo deste império tinha características guerreiras, mas também destacavam-se pelo fausto das cerimônias de cortejo, principalmente aquelas que contavam com a presença do rei (Manicongo). Os desfiles eram de grande magnificência e enriquecidos pela música e dança. Estas festividades ficaram tão fortemente enraizadas no inconsciente dos negros escravizados que vieram para o Brasil, que fizeram surgir em varias regiões do país, manifestações folclóricas atribuídas sempre aos cortejos do rei do Congo.

A semente germina em Niterói – Quilombo do Cubango

O contato dos portugueses com reino do Congo teve grande importância na articulação do tráfico de escravos para o Brasil. Uma expressiva parte dos escravos que trabalharam na exploração aurífera do século XVII vieram desta região, e os negros eram mais caros por serem considerados mais inteligentes e já possuírem conhecimento de exploração de metais preciosos em solo africano.

Um forte comércio se intensificou entre o Brasil e África. No século XVIII veio a proibição do tráfico de escravos, principalmente pela pressão dos ingleses. Para burlar essa proibição, os traficantes buscaram outras alternativas para continuar com esse vil comercio. No caso do destino Rio de Janeiro, uma das alternativas criadas foi o desembarque clandestino nas praias da região oceânica. fazendo surgir em Niterói um mercado negro de escravos.

Niterói se tornou um entreposto clandestino de venda de escravos, um local de paragem, preparo e engorda dos africanos até o momento de sua venda. Essa clandestinidade do cativeiro trouxe como conseqüência um afrouxamento na segurança, pois não podiam chamar a atenção das autoridades da capital do Império, permitindo assim, que muitos escravos fugissem, florescendo alguns quilombos na região.

A herança oral registrou o fato de ter sido localizado um quilombo na região do Morro do Cubango. Um local de liberdade e onde poderiam cultuar sua ancestralidade, mantendo assim viva a chama da cultura africana. Uma semente que floresceu e se transformou nesse reduto de resistência cultural que é nossa Escola de Samba, e que vai trazer no seu nome toda a força da sua herança africana.

Cubango cultua os grande heróis e os movimento resistência negra!

Neste Quilombo Cubango, a valorização da luta por liberdade e igualdade que aconteceram neste país é nosso estandarte. Saudar os grandes heróis negros que não tiveram medo de brigar por  uma vida de respeito, dignidade, igualdade de direitos para acabar com os preconceitos de qualquer natureza, sejam raciais, sociais ou religiosos.

Tais reflexões nos levaram a reverenciar o Quilombo de Palmares, saudando Zumbi, este guerreiro negro que deu a vida pela liberdade e que hoje, é celebrado nacionalmente no “Dia da Consciência Negra”.

O fruto plantado por Zumbi germinou e inspirou diversas lutas pelo Brasil, como a de Negro Cosme na Revolta da Balaiada no Maranhão.

Em Salvador a luta por liberdade e religião, como no caso de Luiza Mahin na Revolta dos Malês, bandeira levantada pelos negros muçulmanos.

A liberdade dos cultos afro-brasileiros com destaque para a atuação de Mãe Aninha, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá no Rio de Janeiro e em Salvador, influenciou o presidente Getúlio Vargas na promulgação do decreto-lei que proibiu o embargo sobre o exercício da religião do Candomblé no Brasil.

O grande Almirante Negro João Candido, conhecido como Dragão dos Mares, liderou a Revolta da Chibata, onde os marinheiros negros se rebelaram contra os castigos corporais impostos pelos oficiais, exigindo o fim desse martírio.

Abdias do Nascimento, um defensor da cultura e da igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil, como deputado federal foi o pioneiro na defesa dos direitos humanos e civis no Congresso Nacional. Ele apresentou o primeiro projeto de lei propondo políticas públicas de igualdade racial.

Neste grande panteão de heróis, nos falta espaço para saudar tantos guerreiros que se notabilizaram nessa briga em prol dos negros africanos e dos afrodescendentes neste país, e que ainda com certeza, vão ser escritos muitos outros grandes capítulos em nossa história, pois a luta continua. Neste pensamento, nós da  Acadêmicos do Cubango, promotora da Cultura Afro-brasileira, estaremos sempre valorizando estas conquistas e lutas em nossos enredos.

Cubango é África em Niterói!

Rufam os atabaques, ganzás, surdos e cuícas, numa batida rítmica e astral. É hora da celebração! Evocamos a memória dos ancestrais africanos, fazendo soar pelos toques os cantos guerreiros dos negros pela libertação! Irmanados com a cidade de Niterói saudamos a mãe África! Pedimos a proteção de todos os orixás para a realização desta celebração.

Dos quatro cantos do Brasil convidamos para participar desta festa  manifestações folclóricas e culturais perpetuadas pelas tradições africanas. É hora desses filhos saudarem suas raízes que tanto colaboraram para tornar esse país mais rico culturalmente; do  samba ao afoxé, do maracatu as congadas, do jongo ao cortejos de Chico Rei, o negro deu festa e vida ao Brasil, mas também mostrou sua força e sua garra sabendo resistir e driblar com sua malemolência os percalços sofridos. Um exemplo que precisa ser sempre exaltado com orgulho e festa!

Somos sim uma Nação mestiça, mistura de muitos povos, mas é inegável a contribuição africana! Negro se fez Rei na cultura, no esporte e na política!  Temos hoje, referências de tantos que batalham por um país melhor e mais digno. A luta pelos direitos e o respeito ainda continua viva e necessária, mas hoje, nesse quilombo do samba que é a Sapucaí, queremos te exaltar: Ó África… Grande Mãe!

Seus filhos vem no ritmar da sua mítica magia te celebrar! Hoje somos todos negros e clamamos em seu louvor! Cubango, vestida de realeza africana, faz desse desfile um ato de amor e respeito, e convida o mundo a te coroar, porque tu és o grande berço de civilizações e deuses, de força de trabalho e cultura, a grande Majestade Negra, a Árvore da Vida!

 

Jaime Cezário

Autor e Carnavalesco

 

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