Louzada promete uma Mocidade mais impactante do que em 2017

ANDERSON BALTAR

Profissional experiente, com mais de 30 anos de Carnaval, Alexandre Louzada vive um dos maiores desafios de sua carreira: manter a Mocidade Independente de Padre Miguel, campeã em 2017 após 21 anos de jejum, no topo do pódio do Carnaval carioca. Amparado por um dos melhores sambas-enredos do ano e por uma comunidade eufórica, o artista vive a expectativa de encerrar o domingo de Carnaval contando na Sapucaí a influência indiana na cultura brasileira e, por consequência, ser brindado com o bicampeonato. Nesta entrevista exclusiva, Louzada fala sobre a inspiração do enredo e sobre o andamento dos trabalhos no barracão da verde e branca.

A Mocidade tem uma torcida enorme, apaixonada, exigente e que sofreu muito com os resultados até o ano passado. Agora, depois de um campeonato, ela estará ainda mais exigente. Como lidar com isso?

É uma grande responsabilidade. Não acho a torcida da Mocidade apenas apaixonada. O tempo de jejum fez deles verdadeiros analistas de Carnaval. Isso faz minha responsabilidade aumentar. E este tem sido um Carnaval difícil, tanto por conta do corte de verbas, como pela interdição da Cidade do Samba. Eu poderia estar confortável, por ter um enredo “patrocinado”, que é uma promessa, mas ainda não é certeza. Por isso, pensamos no Carnaval com o que temos para gastar, antes de se cogitar patrocínio. A escola não está no plano B. Ela já veio no plano B desde o início.

O enredo não foi fechado por causa do patrocínio. Até porque, quando chegou a proposta, havia a promessa de aporte após um mês. Como estamos experientes nessa coisa, decidimos seguir com o enredo, já que os possíveis patrocinadores aceitaram a minha proposta de desenvolvimento. O que nos foi proposto era bem diferente. Fizemos um enredo com grandes possibilidades visuais e com conteúdo cultural. E apostamos nesse caminho, apesar do aporte até agora não ter chegado.

Qual o conceito do seu Carnaval para 2018? No que ele é diferente do de 2017?

Optei por um carnaval mais clean. Não é muito a minha praia, mas eu achava que tínhamos que dar um freio por conta das dificuldades financeiras. O maior desafio está em encontrar material, já que a crise bateu forte nos fornecedores por falta de investimento. Mesmo assim, é um carnaval que pretendemos disputar o título. Estamos nos desdobrando para colocar em prática tudo que foi planejado. A parte de escultura  está bem adiantada e, de decoração tem muita coisa guardada. Vai dar tempo de ficar pronto. Creio que será um Carnaval ainda mais impactante do que o do ano passado. Procurei apenas não arriscar em esculturas muito grandes, com movimentos muito complicados. Mas investiremos muito na comissão de frente e no visual de muitas fantasias, até porque um enredo sobre a Índia pede.

Como o enredo será contado?

A gente começa com o casamento da Índia com o Brasil. Um casamento muito requintado, com um cortejo para casar duas culturas que derivam do céu. Mostramos que a Índia tem a ver com o Brasil desde o descobrimento, desde a busca do caminho das Índias. Poderia ser uma conspiração entre Brahma e Tupã, apresentando a  vitória-régia  que é bem parecida com a flor de lótus. Basta lembrar que nossos nativos foram batizados de índios em homenagem aos indianos.

No período da colonização, a primeira cultura foi a cana de açúcar, que veio da Índia. Veio a chita, que vestiu os escravos, a seda que vestiu as sinhás, o sândalo que perfumou a corte, os leques… a aguardente, derivada da cana. A Índia esteve presente desde os primeiros momentos de nossa história. Em seguida, vieram as especiarias e a partir daí se desenvolveu a culinária brasileira.  Depois vamos para a cultura do boi, que é sagrada para eles e para nós é profana. Mostraremos todas as manifestações do folclore com boi, com destaque para Parintins. No fim, fazemos o congraçamento entre as duas culturas. Na mesma época do Carnaval, na Índia acontece o holi, que é uma celebração num clima muito parecido com o a nossa festa.  No fim do desfile, faremos uma homenagem a todos os pacifistas que pregaram a inclusão e a tolerância, com figuras de lá e daqui, Gandhi, Chico Xavier, Betinho, Madre Tereza, Mãe Menininha, Irmã Dulce, etc.

Você falou há pouco sobre como o torcedor da Mocidade é exigente. E convidou o jornalista Fábio Fabato, que tem uma visão bastante crítica da escola, para fazer a sinopse.  Como foi esse processo?

Tivemos uns três encontros, em bar, bebendo e discutindo. Eu entreguei tópicos para ele, coisas que eu queria, com a filosofia do enredo. Só que eu queria que fosse uma coisa com cara de crônica.  Foi surpreendente porque, entre um drink e outro, o enredo saiu – eu fiquei muito bêbado (risos). A sinopse ficou irretocável, não mexi em nada. É um texto muito bem amarrado e que defende bem o quesito. No final, brinquei com ele: “vamos ser vidraça juntos?” (risos)

A Mocidade tem grande possibilidade de desfilar de dia. Você pensou nessa possibilidade?

Pensamos que os dois últimos carros deverão pegar o lusco-fusco da manhã e os primeiros raios de sol. Mas estou preparado para essa situação. Procurei trabalhar as cores das alegorias que tanto faz desfilar de dia ou de noite. E muito branco. Veremos uma Mocidade branca e verde e com cores suaves.

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