Posted On

22
janeiro
2015

Mangueira aposta na emoção

ANDERSON BALTAR

juniorschall (2)Desde março dando expediente no barracão da Mangueira, o diretor de Carnaval,  Júnior Schall, é a confiança em pessoa. “Vamos disputar o título, pode anotar”, afirma. O que move sua fé? A sintonia no trabalho com o carnavalesco Cid Carvalho, a reengenharia financeira que a agremiação passa e, principalmente, a carga emocional contida no enredo e no samba da escola. Confira nessa entrevista exclusiva como está sendo o processo de construção do carnaval da verde e rosa.

Em que pé está a preparação da Mangueira para o Carnaval?

Estamos bem o trabalho começou em setembro e está dentro do cronograma. Serão sete alegorias, com o abre-alas acoplado, e um tripé. Eu e Cid temos uma boa sintonia de trabalho e, quando ele propõe as ideias, a gente consegue executar. Estamos procurando dar cada vez mais credibilidade à Mangueira. Todos os funcionários recebem rigorosamente em dia, o que não acontecia antes. Posso dizer que, se não fosse o Chiquinho da Mangueira, a escola estaria passando por sérias dificuldades, correndo até risco de não desfilar. Hoje, temos credibilidade com os funcionários. Todos sabem que o dinheiro vai chegar na data combinada. O trabalho de gerenciamento de recursos da escola é magnífico. Tivemos enredo batendo à porta, com patrocínio, mas optamos por um tema autoral, que podemos acreditar mais. Basta ver o momento da Mangueira e do que precisávamos. E o presidente, com sua sensibilidade, escolheu o enredo que a escola precisa para recuperar sua autoestima. Sem patrocínio, mas um enredo riquíssimo, com possibilidade de parceiros.

E já conseguiu parcerias?

O timing das empresas é diferente. Só agora elas se preocupam com o carnaval. E o ano passado foi atípico, com Copa e eleição. Mas estamos buscando parceiros para colocar mais força no nosso trabalho. No momento, estamos com recursos próprios, com todo o gerenciamento que o presidente sabe fazer. Hoje é preciso ter um equilíbrio de forças. Não posso ter o melhor escultor, sem que possa pagar o melhor pintor ou o melhor ferreiro. Eu preciso ter uma equipe equilibrada, que possa ser paga e trabalhar da melhor forma. E esse é um momento fundamental, de recuperação da autoestima do mangueirense. Estamos buscando uma nova dinâmica para  a escola.

Como?

Estamos enxugando a escola. A Mangueira está diminuindo o número de componentes. Se a Liesa reduz o número de carros alegóricos, ela me indica que quer menos componentes nas escolas. Uma escola menor facilita o seu controle na avenida. Assistimos várias vezes os vídeos dos desfiles e chegamos à conclusão de que ela teria de ser menor para ser competitiva.

Qual é o contingente planejado?

No máximo, de 4 mil componentes. Esse é o tamanho adequado para o quesito evolução. Antes, a Mangueira vinha com 4,5 mil a 5 mil, que é impossível de administrar na avenida e é muito custoso para a escola.

Esse corte de componentes foi realizado em que tipos de ala? Comunidade ou comercial?

No todo. Fomos em todos os setores e fizemos um reagrupamento. Por exemplo, quem desfilou em comunidade e não devolveu a fantasia, foi cortado. Estamos investindo na qualidade do componente, no comprometimento. Em relação às alas comerciais, fizemos a junção das alas. Temos 20 alas, mas na avenida, serão 10 alas agrupadas. Dentro isso, diminuímos o quantitativo de componentes nas alas, que virão com 60 pessoas. Foi muito importante chamarmos para conversar com os chefes de ala, que têm uma longa história na escola. Foi um corte feito na própria carne. É difícil equilibrar isso, afinal, é uma escola de uma comunidade muito forte e é uma marca mundial, em que pessoas de todos os lugares querem desfilar. Mas estamos conseguindo.  O fundamental é o comprometimento. As pessoas têm que vir para a avenida com a vontade e o foco na vitória. Temos que equilibrar a paixão que a Mangueira desperta com a competitividade do carnaval atual. Existe um formato de desfile que está dando certo e nós temos que seguir. O gigantismo é nocivo.

Dentro dessa nova realidade, a Mangueira vem para disputar o título ou para brigar por uma vaga no Desfile das Campeãs?

A Mangueira vem para disputar o título.

Mesmo com uma ordem de desfile tão ingrata?

Sim. Quando soubemos que seríamos a segunda escola a desfilar no domingo, passamos a pensar qual seria a melhor forma de aproveitar esse posicionamento. O que seria? Você ter, além de um belo trabalho de enredo, ter uma boa construção física. É escolher um samba que traduza a poesia do enredo do Cid Carvalho. Que você consiga fazer um trabalho na quadra, de divulgação, que ele só cresça até o dia do desfile. Afinal, o grande samba é o que acontece na avenida. O nosso samba tem um quê do que se fazia dos bons sambas do passado.  Procuramos mexer com os brios do componente. Todo nosso trabalho, aliado ao peso da escola e a raça do mangueirense, me faz ter certeza de que vamos brigar pelo campeonato.

A Mangueira passou, nos dois últimos anos, com sérios problemas com alegorias na torre de TV. Eu reparei que as medidas dos carros estão bem calculadas e expostas em painéis em sua sala.

Quando vim para a Mangueira, muitos amigos brincaram comigo. Chegaram a dizer até que, se  o carro batesse na torre de novo, pediríamos música no Fantástico (risos). Mas isso não vai acontecer. Está tudo medido e calculado. Não adianta virmos com lindas fantasias e alegorias, um grande samba e termos esse problema de novo. É uma ducha fria no componente e o fantasma volta pesado. A altura de 9,5m é suficiente para passar na torre e nenhum carro será maior do que isso. Queremos uma salva de palmas da arquibancada quando cada carro passar pela torre (risos). 

Como estão os ensaios de rua?

Começamos no início de dezembro em um local muito bom, que é uma rua recém-aberta perto da estação de metrô do Maracanã. É um espaço interessante, que permite fazer um trabalho muito forte de evolução e, principalmente, o canto. Priorizo muito a emoção. Na Mangueira é fundamental que o samba emocione. Se isso acontecer, quando soar a sirene, os componentes estarão em catarse, transe, encampando e incorporando o samba para ele. Precisamos dessa emoção natural do mangueirense.

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