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06
dezembro
2016

Nas flâmulas da história

ALEXANDRE MEDEIROS

alexandre-medeirosDos antigos registros icônicos do mundo das escolas de samba do Rio de Janeiro que repousam em acervos ou viajam pela grande rede web, sempre tive uma atenção maior pelos relacionados aos integrantes das escolas do que os ligados aos desfiles. Gosto de saber e observar quem são aqueles apaixonados que cumprem a sina de ser feliz naqueles carnavais de rua.

Em incomuns registros fotográficos de membros das camadas mais pobres do Rio em meados do sec. XX – já que fotografia ainda era uma coisa cara e os retratos eram tirados por algum fotografo jornalístico, artístico ou curioso – podemos observar e ter uma ideia de como eram as moradias, as vestes, o arranjo e outros detalhes da intimidade doméstica em favelas e comunidades carentes da cidade. E uma das coisas que mais me chamam atenção é perceber o hábito de alguns de usar nas paredes da sala de estar, como decoração, uns pedacinhos de pano colorido, geralmente triangulares. Tais peças, tão comum antigamente e que hoje em dia sumiu da vida das pessoas, eram as famosas flâmulas.

Essas pequenas bandeirolas festivas, criadas inicialmente no âmbito militar marítimo, ficaram muito populares no Brasil entre os anos 40 e 70. E bem distante de dizer “paz no futuro e glória no passado” no seu verde louro, as flâmulas invadiram a vida cotidiana como um artefato de lembrança comemorativa de qualquer tipo de evento, seja ele esportivo, religioso, cívico, empresarial, colegial e quase tudo o mais que se possa pensar.

Tinham também as flâmulas de brinde de lojas comercias, de batalhões militares, de souvenir de turismo, de propaganda política e, claro, relativa ao carnaval e as escolas de samba. Era muito comum ver as flâmulas decorando a sede social de algumas agremiações ou a sala da casa de integrantes das escolas e blocos da cidade. Toda boa festividade social tinha que ter uma flâmula de recordação.

flamula-portelaPara a coluna de hoje trago três dessas peças que tive a sorte de encontrar pelas feiras que passei e que hoje descansam lá em casa. A primeira é uma bela peça comemorativa do título da Portela de 1964. Geralmente as flâmulas mais requintadas como essa eram feitas de seda e tinham bordados e outros acabamentos mais caros.

flamula-salgueiroA segunda é também uma homenagem, ao título de 1965 – carnaval do 4º centenário do Rio de Janeiro – do Acadêmicos do Salgueiro. A figura sorridente de Isabel Valença, a eterna Chica da Silva, domina toda a peça. Essa bandeirola é a tipo mais comum na época, feita de um tecido mais em conta, usando a técnica do silk screen para estampar a arte.

flamula-mangueiraJá essa terceira flâmula eu realmente não sei muita coisa. Parece que foi um brinde da Ala dos Impossíveis da Estação Primeira de Mangueira. Seria essa imagem o figurino da ala para o carnaval “O mundo encantado de Monteiro Lobato”? E porque “as 15”? Cartas para a redação.

Desaparecidas do mundo hi-tech contemporâneo, as flamulas caíram no esquecimento e acho até que nem viraram peças de museu, já que esse tipo de objeto do cotidiano é pouco recolhido e estudado, o que é uma pena, porque essas “testemunhas” tem uma incrível capacidade de trazer dados da época que foram concebidas e tecer um interessante panorama não convencional da história social e privada do Brasil.

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