O dia em que Lamartine caiu do Salgueiro

ALEXANDRE MEDEIROS

alexandre-medeirosUm dos maiores carnavais que já pisaram a Marquês de Sapucaí foi o desfile da Imperatriz Leopoldinense em 1981. Com o título de “O teu cabelo não nega”, o enredo era uma grande homenagem ao compositor Lamartine Babo, que muito fez para alegrar as folias de momo dessa Terra Brasilis. Capitaneada pelo talento do saudoso carnavalesco Arlindo Rodrigues e embalado pelo samba mais-do-que-estourado-nas-rádios do folclórico Zé Catimba (que ainda se assinava com o “C”), a escola de Ramos passou na avenida – ou melhor, naquele palco iluminado – envolvendo corações num desfile que entrou para a história e deu o primeiro bicampeonato para a escola.

Mas por pouco, talvez, aquele desfile não existisse… O que pouca gente sabe é que o Acadêmicos do Salgueiro havia escolhido justamente o nosso querido Lamartine como enredo para o seu carnaval de 1980.

Para confeccionar o desfile de 80, a Acadêmicos do Salgueiro contratou o carnavalesco Max Lopes, que sugeriu um enredo sobre o compositor. Com o título “Lamartiníadas – folia e paixão” enredo foi lançado em agosto de 1979 em uma grande festa na boate “Oba-Oba”, de propriedade do showman Oswaldo Sargentelli, que dispensa grandes apresentações. Vale lembrar um fato curioso: pouca gente sabe, mas Sargentelli era sobrinho do Lamartine.

Enredo lançado e tudo encaminhado, Max começou a desenvolver o enredo e desenhar as fantasias e alegorias. Porém, durante a preparação para o desfile, Osmar Valença reassumiu a direção da escola e, para surpresa de todos, demitiu o carnavalesco. O enredo foi considerado fraco por Osmar e foi abandonado. Foi contratado o carnavalesco Ney Ayan, que junto a Jorge Nascimento, desenvolveu o enredo “O bailar dos ventos, relampejou mas não choveu” em homenagem à Iansã, orixá dos raios e dos ventos.

Mas se o Salgueiro tivesse homenageado Lamartine em 80, a Imperatriz iria repetir o enredo no ano seguinte? Será que a decisão de Osmar Valença foi de caso pensado, numa tenebrosa transação de venda de enredo? Muitas são as suposições e teorias que tentam explicar a controversa decisão do presidente salgueirense, mas de qualquer forma, a desistência acabou por abrir o caminho para Arlindo Rodrigues propor o enredo para o carnaval de 81 da Imperatriz.

E daquele enredo natimorto só restaram a lembrança e esse convite da festa de lançamento, que descansava no acervo do grande Suetônio Valença, biografo de Lamartine Babo e testemunha ocular dessa história.

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