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30
agosto
2016

O papel do samba-enredo

ALEXANDRE MEDEIROS

alexandre-medeirosJá estão a pleno vapor nas quadras das escolas as disputas de sambas-enredo para o próximo ano. E uma das marcas que ficam ao frequentar as noites de cortes é o acumulo de prospectos com os sambas concorrentes.

Com a capacidade de encher qualquer gaveta, estes impressos são distribuídos pelos autores dos sambas e trazem as informações básica dos concorrentes a hino da escola. Às vezes carregam também o nome de algum patrocinador que acabou por ajudar os compositores nos gastos que as competições desse tipo acarretam.

Impreterivelmente com o tempo, essas letras de sambas são fadadas ao esquecimento e vão para a lixeira. Algumas escapam de seu destino por ficarem perdidas no fundo da gaveta ou pelo cuidado de algum abnegado que guardou aqueles pedaços de papel.

E para a coluna de hoje eu trago uma destas testemunhas, que tem a sua glória em carregar a letra do grande samba-enredo portelense “Lapa em Três Tempos” e por trazer uma curiosa história por traz dela…

Para tentar disputar o bicampeonato de 1971, a Portela lançou o enredo “Lapa em Três Tempos”, que exaltava o famoso bairro boêmio do Rio de Janeiro em diferentes épocas. A “Lapa de outrora”, a “Lapa de hoje” e a “Lapa do futuro” seriam apresentadas pela Portela em seu desfile.

Inspirados em um samba de 1938, interpretado por Orlando Silva, intitulado “Abre a Janela”, os compositores Ary do Cavaco e Rubens tiveram uma ótima sacada e criaram um grande samba que acabou sendo o escolhido para o desfile da azul e branco de Madureira. Gravado por Paulinho da Viola e outros cantores, o samba-enredo ganhou o mundo e já era bem conhecido do grande público antes mesmo do desfile da escola, na Avenida Presidente Vargas, naquela madrugada de 22 de fevereiro.

prospectoportela1971Pois bem, voltando ao prospecto em questão, esse papel que veio parar nas minhas mãos foi guardado com muito cuidado ao longo de anos pelo Amaury Jorio, então presidente da Associação das Escolas de Samba do Estado da Guanabara (AESEG). Isso porque no seu verso trazia um pequeno recado do Ary do Cavaco, que pedia a sua intervenção em uma questão fonográfica.

Em 1970, procurando abrir mais espaço para as escolas de samba nas lojas de discos do Brasil, a AESEG decidiu criar um selo próprio, por onde seriam lançados os discos dos sambas enredos e outras composições de autores oriundo das escolas. Para tanto, foi assinado um contrato com a gravadora Caravelle que iria imprimir os LPs e compactos.

Para aquele ano de 1971, além do disco de sambas de enredo oficial “Sambas enrêdo – 1º grupo – 1971”, a AESEG lançou compactos por escola, aonde de um lado teríamos o samba enredo da agremiação para aquele ano e do outro lado um samba de algum compositor da escola em questão. Dessa forma, Ary do Cavaco resolveu fazer um lobby e rabiscou um pedido para Amaury atrás de um prospecto do seu samba enredo.

Ary pedia que Amaury visse com o Aroldo Bonifácio – que estava trabalhando na produção fonográfica da Associação – para colocar um samba seu no lado B do compacto dedicado a Portela.

Não sei se o pedido foi atendido, já que dessa leva de compactos de 1971 eu só tenho notícias de alguns lançados – e nenhum deles sendo o portelense – mas o registro do pedido ficou eternizado junto com a letra do grande samba-enredo.

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