Os 10 Mais de Gustavo Melo

Na segunda edição do programa Os 10 Mais, o jornalista e diretor cultural do Salgueiro Gustavo Melo apresentou seus dez sambas preferidos da Academia Tijucana. Em bate papo riquíssimo com Anderson Baltar e Chico Frota, Gustavo contou detalhes interessantes das composições e desfiles que elas embalaram. E se ligue nas reprises do programa: nesta terça (25), às 19h; na quarta (26), às 10h e no sábado (30), às 17h.

Os 10 Mais do Salgueiro, por Gustavo Melo:

1957  – Navio Negreiro (Djalma Sabiá e Amado Régis)

“É um samba emblemático, todo em tom menor. Inspirado na poesia do Castro Alves, tem uma melodia dramática, como a travessia do navio. E tem palavras rebuscadas como altruísta e tenaz, que hoje seriam impossíveis de serem ouvidas em um samba-enredo, e muito bem aplicadas. É um samba obscuro, mas que a velha guarda canta em seus encontros. É um samba que Castro Alves assinaria, sem dúvidas.”

1958 – Corpo de Fuzileiros Navais (Djalma Sabiá, Carivaldo da Mota e Graciano Campos)

“Esse samba tem quase uma continuidade melódica do ano anterior. O enredo quase foi impugnado porque homenageava apenas uma das forças e isso gerou muita polêmica. Mas foi um desfile muito elogiado, como se o Salgueiro tivesse incorporado um desfile militar ao carnaval. Inclusive, a escola tem as mesmas cores da corporação. A letra é espetacular, porque consegue colocar poesia em um tema tão difícil como os fuzileiros navais. ”

1963 – Xica da Silva (Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho)

“Um dos maiores sambas da história do carnaval, foi a trilha sonora da revolução, da grande virada do carnaval moderno. Foi um desfile emblemático e o samba é uma trilha à altura. Arlindo trouxe toda a história de Xica da Silva, que era totalmente desconhecida. E os poetas fizeram um samba que bate na veia. Tem negritude, tem a imponência dos salões. É africano, mas a melodia, muito bem trabalhada, lembra uma valsa”.

1964 – Chico Rei (Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Binha)

“Depois do título, o Salgueiro precisava de um enredo à altura para o bi. E teve. Uma pesquisa espetacular do Arlindo, com um história tão fascinante como a da Xica da Silva. A letra descreve perfeitamente o enredo, do início ao fim. Martinho da Vila sempre diz que esse é o maior samba-enredo da história.”

1968 – Dona Beja (Aurinho da Ilha)

“É o meu samba preferido. Tem uma melodia toda em menor e também nos transporta para Minas Gerais. A escola estava em crise e o Laíla fez um esforço imenso em unir a escola. O contingente foi de 800 pessoas – muito pequeno para a época. Em compensação, a escola fez um desfile muito compacto, bonito e elegante. O samba coroou essa união e fluiu na avenida. É um samba epopeico, tem um quê de baile e tem a melodia mais linda de todos os sambas do Salgueiro”

1969 – Bahia de Todos os Deuses (Bala e Manuel Rosa)

“Uma arrasa-quarteirão. É um samba emblemático, que até hoje é cantado na quadra e todo mundo pede. O Bala, um dos autores, nunca tinha ido à Bahia e fez o samba com suas próprias impressões. O samba funcionou tão bem que um programa de TV levou o compositor a conhecer a Bahia, que ele tinha reproduzido tão bem. O Salgueiro desfilou quase meio-dia, com um sol de rachar, mas fez um desfile espetacular e foi campeão”.

1978 – Do Yorubá à Luz, A Aurora dos Deuses (Renato de Verdade)

“O Salgueiro estava em uma fase muito complicada, com muita briga política. O que segurava a escola era o chão, barracão e o samba.  Neste ano, o Salgueiro fez o mesmo enredo do que a Beija-Flor, em um confronto direto entre Fernando Pamplona e Joãosinho Trinta. Até 2014, esse era o único samba Estandarte de Ouro do Salgueiro. E esse é um samba africano, forte, com negritude na veia”.

1989 – Templo Negro em Tempo de Consciência Negra (Alaor Macedo, Helinho do Salgueiro, Arizão, Demá Chagas, Rubinho do Afro)

“Esse é o samba que me fez virar salgueirense. Ele tem uma melodia incrível, tem emoção pura. Foi o primeiro carnaval que acompanhei. Tinha 11 anos e ainda morava no Ceará. A primeira vez que ouvi esse samba, tive uma descarga de 10 mil volts, algo difícil de explicar. Era a primeira vez que eu via o Salgueiro e eu tinha saudade de algo que não vivi. Eu estava me reencontrando comigo mesmo. É muito louco. Naquele momento, que vi aquele mar vermelho e branco, não tive dúvidas: essa é a minha escola”.

1992 – O Negro que Virou Ouro nas Terras do Salgueiro (Bala, Efealves, Preto Velho, Sobral e Tiãozinho do Salgueiro)

“Fiquei em dúvida entre esse samba e ‘Rua do Ouvidor’. Mas escolho esse por conta da pegada africana. A escola flanou na avenida. Eu acho que o Salgueiro construiu o campeonato de 93 ali. O samba teve um desempenho fantástico na avenida, muito em função do trabalho do Mestre Louro e do Odilon – que estava lá naquele ano”.

2007 – Candaces (Dudu Botelho, Marcelo Motta, Zé Paulo e Luiz Pião)

“Esse samba ficou na história do Salgueiro até por conta da injustiça que fizeram com a escola, que ficou em sétimo lugar. Vínhamos do pior resultado da história da escola – penúltimo lugar – e a escola se deu as mãos e sabia que tinha que se reinventar. A filosofia foi olhar para trás para ir para a frente. Voltamos à estética africana e trouxemos um enredo inédito. Quando ouvi o samba no CD, não era o meu preferido. Só que, na quadra, ele atropelou, da primeira apresentação até a semifinal. Na final, o Moisés Santiago foi melhor, mas a escola já queria o samba. E no desfile, saímos com o grito de ‘É campeão’. Foi uma redenção, um grito de liberdade”.

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