Posted On

20
setembro
2016

Pelo orelhão

ALEXANDRE MEDEIROS

alexandre-medeirosUma das coisas que mais me impressiona nessa vida é a velocidade da obsolescência de alguns aparatos tecnológicos. Tem umas invenções que vem e vão embora rapidinho, mas tem outras que, por uma incrível natureza colecionável, ainda respiram pelos guetos dos colecionadores. Um destes curiosos casos é o dos cartões telefônicos. E não falo do cartão pré-pago de celular de hoje, falo daqueles que usávamos muito nos orelhões da vida, lá pelos anos 1990 e início do século XXI.

Por causa dos cartões telefônicos admitirem a exploração promocional das imagens neles estampadas, a diversidade de motes era grande. O grande número de séries temáticas e lançamentos comemorativos acabou fomentando o surgimento da telecartofilia, que é o nome do barato de se colecionar esses cartões.

E para a coluna de hoje, trago uma das séries mais bacanas que foi a das escolas de samba do Rio de Janeiro, lançada em 1998. Composta por 15 cartões, a série trazia estampada em cada um dos cartões a bandeira das 14 escolas de samba que iriam desfilar no Grupo Especial de 98 e mais um cartão com a bandeira da LIESA. Assim, os pavilhões da Beija-flor, Imperatriz, Mangueira, Portela, Viradouro, Mocidade, Salgueiro, Grande Rio, Ilha, Caprichosos, Tradição, Vila Isabel, Unidos da Tijuca e Porto da Pedra ganharam um lugarzinho nos milhares de bolsas e carteiras dos brasileiros.

Interessante ver o retrato de uma época aonde 14 escolas ainda desfilavam no principal grupo de disputa. Viradouro, Caprichosos, Tradição e Porto da Pedra ainda davam as caras na elite das escolas. O legal é ver que ninguém imaginaria naquele tempo que a desacreditada Unidos da Tijuca – que caiu naquele ano para o grupo de acesso – iria dar uma bela sacudida anos mais tarde com a vitoriosa era Paulo Barros.

Curioso é ver como algumas bandeiras mudaram neste curto-logo espaço de tempo. Salgueiro saiu do modelo centralizado e retomou (sabiamente) a sua antiga formatação aonde o brasão da escola é deslocado do centro. A Porto da Pedra, que tinha um tigre que mais parecia ter saído do Bafo da Onça, acabou por modernizar o seu símbolo máximo. A da União da Ilha agora é toda rajada, a da Grande Rio aumento o número de rajados e a da Vila ainda ostentava a sua solitária estrela do campeonato de 1988.

Outra marca da dinâmica moderna que vivemos está estampada na parte de trás de cada cartão. Aparece em destaque um endereço eletrônico para a parte de carnaval do antigo portal ZAZ, que sumiu da net e virou a base para o portal Terra que temos hoje.

Emitidos pela Telebrás com 50 créditos de ligação, a série “Carnaval 98 – Grupo especial” saiu com uma tiragem de 20 mil unidades por cartão. A exceção ficou com o cartão da bandeira da LIESA, que teve 10 mil unidades prensadas. Por conta desse último fato, a série completinha com os 15 cartões é cobiçada nos meios colecionistas.

Outros cartões telefônicos, avulsos ou em série, sobre o carnaval do Brasil foram lançados, mas nenhum outro homenageou o nosso mais querido ritmo, que curiosamente começou a sua vida, a cem anos atrás, por um telefone.

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