Posted On

22
setembro
2016

Ricos foliões

Na próxima terça-feira, a Liesa “estará recebendo os pedidos de reservas dos Camarotes” para os desfiles do Carnaval 2017. O anúncio, no site da entidade que manda e desmanda na festa, não pode passar assim como se fosse algo normal. Não é. E os motivos são muitos. Escolho um: os preços altíssimos, contra os quais pouca gente se pronuncia publicamente, e que a cada ano deixam ainda mais longe o sonho de um Carnaval verdadeiramente popular.

O camarote mais barato, de 12 lugares, custa R$ 35.000. Ou seja: R$ 2.916 por pessoa. O mais caro sai por R$ 120.000 por 30 lugares (R$ 4.000 por vaga). Individualmente, no entanto, o mais caro é o de R$ 82.000 com capacidade para 18 foliões, o que dá R$ 4.555 para cada um. Que tal?

Enquanto não são liberados os preços dos ingressos de arquibancada, vamos a mais algumas contas com os valores das frisas, já divulgados. A frisa de seis lugares mais barata custa R$ 4.500 (o que equivale a R$ 750 por pessoa). Já a mais cara fica por R$ 8.000 (R$ 1.333 por lugar). Há também, em dois setores, frisas de quatro lugares. Elas custam de R$ 1.250 (R$ 312 o lugar) a R$ 1.900 (R$ 475 por pessoa).

Sem falar em agências de turismo e nos cambistas que sempre têm acesso privilegiado a milhares de ingressos, pelos quais cobram quanto bem entendem, está aí um pequeno panorama de como e para quem é destinado o “maior espetáculo da Terra”. E pensar que o projeto original do Sambódromo previa que os grandes vãos na frente das arquibancadas e entre elas deveriam ser destinados ao povo que não pudesse pagar por ingressos…

Desnecessário lembrar que a Passarela do Samba não foi desenhada por Oscar Niemeyer e inaugurada por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro para elitizar a folia – muito menos para privatizá-la. Mas foi o que aconteceu.

Exaltamos a grande festa, a paixão pelas escolas, os desfiles históricos, a beleza do espetáculo que nasceu no seio do povo, mas foi sendo apropriado pela elite, pelo dinheiro, pelos donos do Carnaval e de outros negócios mais. Mas não denunciamos com o mesmo fervor os preços abusivos, as negociatas, a falta de transparência com o dinheiro que o desfile das escolas de samba gera e nem perguntamos para quem ele vai. Como se uma coisa fosse uma coisa, e outra coisa fosse outra coisa. Será? Até quando?

O Sambódromo foi erguido com o dinheiro do cidadão. De todos, pobres e ricos. Mas, de novo (como sempre!), fica a constatação de que aos primeiros foi dado apenas o direito de ver o Carnaval através da tela colorida de uma só emissora, a TV Globo, que além de tudo só mostra – e muito mal – o que deseja e na hora em que deseja. E com toda a distorção, parcialidade e desinformação que nem o maior dos carnavalescos ousou sonhar um dia.

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