Severo: “Todos verão uma União da Ilha poderosa”

ANDERSON BALTAR

Gaúcho de Uruguaiana, Severo Luzardo passou mais de 10 anos fazendo bons desfiles em escolas do Grupo de Acesso até ter a sua primeira oportunidade no Grupo Especial, no ano passado. Com um desfile elogiado e prejudicado com problemas em um dos carros alegóricos, levou a União da Ilha ao oitavo lugar. Para 2018, Severo aposta em um tema de mais leveza, porém, como ele mesmo afirma, sem perda de densidade. “Brasil bom de boca” pretende fazer um apanhado das influências que formaram a culinária brasileira e, na esperança do carnavalesco, levar a tricolor insulana ao Desfile das Campeãs.

Este é o seu segundo ano na União da Ilha, após um Carnaval de ótima repercussão. E você vem com uma proposta de enredo diferente, mais leve e que dialoga melhor com o histórico da escola.

É um enredo leve, mas não menos importante e denso do que o outro. Apesar de não saber cozinhar, sou um apaixonado pela gastronomia. Compro livros, prestigio os concursos, vou a restaurantes assim que inauguram. Sou apaixonado pela culinária brasileira. Nossa comida é diferente e é impregnada de memória afetiva. Todo mundo tem um segredo, um tempero que vem de família. E isso me encanta de tal forma, que resolvi fazer o enredo neste momento, em que demos uma repaginada na escola no último desfile. E tivemos a chancela dos grandes chefs de cozinha, que estão apoiando, que vão desfilar com a gente. Virão chefs de todos os estados e eles estão integrados à nossa comunidade e nossos eventos.

Como o enredo será desenvolvido?

O enredo é uma análise antropológica do que somos a partir do que comemos. Como essas influências chegaram à nossa mesa ao longo dos tempos? Dividimos o enredo em cinco partes: a primeira é o que chega de fora quando a nobreza vem de Portugal. Até esse momento,  o que se comia aqui era baseado na comida de subsistência das caravelas. Com a chegada dos nobres, começa a haver uma preocupação real com a gastronomia. Nesse período, chegam as frutas, as especiarias. No segundo setor, vamos falar do que já existia aqui pelos índios: o pato no tucupi, o tacacá, a mandioca. O terceiro momento é a chegada dos negros, com seu tempero na comida da corte. A senzala começa a dar o seu tempero na comida da casa grande. Neste setor, temos a feijoada, o acarajé, o dendê, a manga, a melancia, o melão, a moqueca. No quarto setor, vamos mostrar que o mundo come no nosso quintal, já que produzimos  arroz, soja, trigo e o cacau.

No último setor, fazemos uma análise das coisas tipicamente brasileiras, o que só tem aqui: coxinha de galinha, brigadeiro, caipirinha, guaraná, açaí. Coisas que o turista chegam aqui com uma listinha doidos para experimentar. E encerramos com um grande bar, já que os botecos são as instituições brasileiras, lugares sagrados de comer e beber, conversar casualmente, falar de futebol, política. É onde o Brasil é bom de boca

É um enredo que tem leveza e alegria, marcas da escola. Mas a Ilha será competitiva?

Quando eu fui chamado para vir, foi para dar um patamar competitivo para a escola, trazendo um estilo elegante, a exemplo do que fiz no Império Serrano. Conseguimos isso no ano passado, com muita dificuldade, mas foi muito importante a injeção de confiança que provocamos no público e no componente. Quando a Ilha virar a curva de novo, todos verão a União da Ilha poderosa. É isso que queremos. Uma Ilha podendo disputar, fazendo um novo caminho. Nossa característica é a alegria e isso não se perderá. Tenho uma relação de transparência total com a diretoria e vamos fazer um grande carnaval dentro de nossas possibilidades, mas sem deixar de ser competitivos. Por exemplo: todas as estampas das fantasias foram criadas aqui. Isso nos permitiu uma grande economia, mas sem perder a qualidade visual.

A pretensão é brigar por um lugar pelas seis?

Nossa ideia é voltar nas Campeãs. Estamos solidificando um trabalho. Poderíamos voltar no ano passado, mas não conseguimos por um problema no quarto carro e também por algumas notas inexplicáveis, como as do samba-enredo, que era um dos melhores do ano e tirou várias notas baixas. Meu enredo foi bastante elogiado e ganhou vários 9,8. Mas estamos trabalhando para que o trabalho fique mais denso e que seja mais difícil para que o peso da bandeira influa.

É frustrante?

Muito. Eu venho do cinema, trabalho com grandes diretores, que julgam meu trabalho diariamente. A gente muda figurino, muda tudo o tempo todo. Mas pelo menos lá há uma justificativa. O diretor me fala o que não gostou e pode ser mudado.

Qual o espírito que a escola vem esse ano?

Estamos muito felizes. A cada ensaio eu vejo muita alegria. O samba bom é o que a comunidade canta e nós temos um, que caiu no gosto de nossos componentes e é de facílima assimilação. E temos os quesitos muito fortes. Temos um casal nota 10, uma bateria fantástica, o Ito Melodia, que é um monstro, a comissão de frente do Márcio Moura, que é muito talentoso… Trabalhar em uma escola com uma equipe como essa é um privilégio. Sou fã de todos eles.

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