Vila Isabel divulga sinopse

Sem títuloA Vila Isabel divulgou, na noite desta terça-feira (12), a sinopse do enredo “O Som da Cor”, de autoria do carnavalesco Alex de Souza. O tira-dúvidas com os compositores será nos dias 16 e 30 de agosto; a entrega dos sambas será no dia 05/09, às 19h. A final da disputa de sambas-enredo acontecerá no dia 7 de outubro.

Confira a sinopse da Vila Isabel para o Carnaval 2017:

“Ouço um tom de pele. Vejo a música que se embala. Me arrepio no toque da batida, saboreando o ritmo que dela exala. Sinto cheiro daquela gente sofrida, no brilho da voz que não cala. Está é a sala daqueles que migraram forçosamente, para um já velho novo mundo. Após séculos no cativeiro, tingiram estas Américas e as fizeram crioulas. Gerações que se seguiram colheram os frutos dessa musicalidade, semeada por seus ancestrais. Vozes e percussão revelando seus ritmos, no bater do pé e na palma da mão. Instrumentos inventados ou adquiridos de outras culturas.

De início, navego milhas, nas ondas latinas, aportando nas Antilhas, como os hispânicos reinóis, seus descobridores. Entre chocalhos e maracas, o canto e a dança, ao som da habanera cubana. Do culto ao etíope monarca africano, nasce o movimento rastafári caribenho, disseminado pelo reggae jamaicano.

Seguindo para o sul da colônia, conhecemos a cúmbia, “dança dos escravos” na Colômbia. No uruguai, a dança com atabaques, tem como candombe seu codinome. Bantos, de origem, seguem para a prateada Argentina, muitos partindo do Brasil. Embarcavam, levando em si uma cultura genuína, que, transportada em cada carreiro, chega ao porto de Buenos Aires vinda do Rio de Janeiro. Assim nascem a milonga e o tango, seu irmão, que no dialeto banto quer dizer círculo, baile, tambor ou reunião.

Além das coroas ibéricas, outros reinos colonizaram o continente; ingleses e depois seus colonos americanos, que se proclamaram independentes, disputaram com espanhóis e franceses novos territórios. E neles aportavam navios negreiros, a mão de obra escrava, nos brancos campos de algodão, era despejada. Proibidos de falar, cantavam. Cantando dividiam dor, amor e cânticos de louvor. Blues, ou “azuis”, era referência às pessoas de pele negra e à melancolia nas plantações. Pai do jazz, que contêm um banzo, uma saudade. Nova Orleans foi o berço. Os instrumentos das bandas marciais, uma vez abandonados, após a derrota dos sulistas na guerra civil, foram reaproveitados. Segregados, os irmãos de cor dedilhavam o teclado em igrejas para os fiéis. Restava-lhes pouco espaço, somente em bares, clubes e bordéis. Assim o “ritmo” vai dominando o suingue do compasso. Do boogie-woogie e do jump blues nasce um novo gênero que, ao som de guitarras, pelo mundo inteiro, a juventude conquistou. “Aumenta que isso aí é rock’n roll”. Está na alma, está no soul! Na pista disco. No funk e no tecno. Negro é rap, é hip hop. Ser negro é ser pop.

Agora ouço, das terras brasileiras, histórias que a memória traz. Bantos, iorubas, jejes, minas e hauçás sobrevivendo entre a dor e a gana, na ex-colônia lusitana, deram inicio a uma íntima relação entre música e fé. E ao seu culto chamaram “Calundu”, e em seus “batuques” na mata aberta nos cafundós do sertão, uma cultura se manifesta. “Se negro festeja não conspira”, diz o amo branco que assim permitia. Na roda dos negros virou lundu, uma dança sensual que, junto à fofa e ao fado, atravessou o Atlântico e conquistou Portugal. Este último se une aos cantos dos mouros, às cantigas dos trovadores, da saudade inerente dos marinheiros. Consolida-se como canção solista, inspirada na dança estilizada. Revela-se que o grande orgulho luso, ora pois, tem um pé na senzala.

Nas ruas daqui, o toque da zabumba chama o povo para o festejo, ao relembrar a coroação do rei do congo num sincrético cortejo, das embaixadas da nobreza negra, sua corte seus vassalos. A devoção da irmandade negra católica à padroeira dos escravos. Salve Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, salve São Benedito. Batam tambores, marimbas e ganzás, nas batidas de caxambus. Dos reisados, de Chico Rei coroado e dos maracatus. Festejando em louvação, simulam lutas nos autos negros que saúdam a Divina Senhora da Purificação. Na tradição nagô, o “candomblé de rua”, na cadência do ijexá com seus xequerês e agogôs, é representado pelo afoxé. E nos trios elétricos brincam ao ritmo do axé. Dos grandes mestres e batutas, choram flauta e cavaquinho. As modinhas, polcas, maxixes, pilares do meu carinhoso chorinho. E nos grandes encontros se fez o jongo, conhecido como caxambu e corimá.

E o samba, que vem de “semba”, a angolana “umbigada”, mexe e remexe nos seus requebrados. Sincopado e malandreado. Vem exibir, com as palmas e a resposta, os seus passos e rebolados. Meu tamborim de bamba, valorizando a batucada. Com as bênçãos de Ciata e das “tias baianas”, na Praça Onze e na Pedra do Sal, na Pequena África carioca. “Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros”, que a negritude tem a primazia. E é dessa cor que falo, que meus sentidos expressam, naquele que é considerado o maior espetáculo. Trazendo os matizes de cada pavilhão, a escola que o samba fez. E ao som das cores da Vila, que é Azul, Branca e Negra também, vem kizombar mais uma vez.

Alex de Souza”

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