Posted On

25
julho
2016

Viva a Imprensa de Carnaval!

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ANDERSON BALTAR

No último sábado, estive na quadra da Portela para receber o troféu Plumas e Paetês, na categoria melhor jornalista. Evidentemente, estou muito feliz com o reconhecimento de meu trabalho e agradeço penhoradamente à coordenação do prêmio. Feito o registro, gostaria de trazer até você a reflexão que fiz durante aquele dia todo e a expus no palco, enquanto recebia o meu troféu. Em meio a tanta alegria, não podemos deixar de manifestar nossas preocupações e angústias com as nossas maiores paixões. No meu caso, o jornalismo e o Carnaval.

Jornalismo e Carnaval. Desde sempre estiveram de mãos dadas. Através dos folhetins dos jornais da segunda metade do Século 19, as primeiras manifestações carnavalescas organizadas, como as sociedades, ganhavam espaço nos diários da então capital do Império. Com a chegada do Século 20, vem o progresso tecnológico, o aumento das tiragens e a segmentação do noticiário para a busca de novos públicos. “Pródromos da Folia”, no Jornal do Brasil, foi a primeira coluna especializada em carnaval. Com o surgimento de uma população negra, de cultura fantástica e encantadora, numa região denominada Cidade Nova, os jornais abriram espaço para esses grupamentos:  ranchos, blocos de sujos e até um pessoal que se auto-intitulou como escola de samba. Não à toa, os primeiros desfiles das escolas foram organizados por jornais: o de 1932, pelo Mundo Sportivo, do grande Mário Filho; o de 1933, por O Globo; o de 1934, por A Hora; e o de 1935 por A Nação, em parceria com a prefeitura, no primeiro certame oficializado.

Depois de ver a nossa maior festa virar espetáculo, show televisivo, campeã de vendagem de discos e líder de audiência, assistimos, cada vez mais, em um mundo de profundas mudanças na mídia, o desfile das escolas de samba se tornar um evento ainda consumido pelas massas, mas vivido por um gueto. Um grupo pequeno da população consome diariamente as informações das escolas, que penam para conseguir espaço na mídia tradicional. Os programas de rádio voltados ao samba cabem nos dedos de uma mão. Quase não há mais colunas voltadas para o Carnaval nos jornais. Como conseguir algo nessa mídia  totalmente esfacelada por décadas de maus investimentos, erros de projetos, má administração e canalhice congênita? Temos jornais a cada dia mais desimportantes, portais de notícias que reproduzem prisões de ventre de celebridades e emissoras de TV que se preocupam mais com reality-freak shows. Como romper essa barreira? Como fazer o samba voltar para a vida do carioca?

Há algumas semanas falei do abismo que hoje separa as escolas de suas comunidades e, por consequência, da vida do carioca comum. Amplio o debate e incluo a comunicação. Como nos fazer ser percebidos fora de nossos muros? Não há outro caminho que não seja pelo investimento na imprensa alternativa de Carnaval. Temos vários sites, webrádios, blogs, canais de Youtube e outras iniciativas. Em sua grande maioria, tocadas por pessoas talentosas, idôneas e, acima de tudo, apaixonadas e comprometidas com nossa maior festa. A mídia de Carnaval na Internet hoje é uma realidade e não pode mais ser ignorada por dirigentes, investidores e patrocinadores. É ela quem garante o fluxo de informações e a documentação dos fatos e feitos durante 365 dias por ano. Chegou a hora de pararmos de ser encarados como sonhadores/empreendedores e passarmos a ser, de fato, empresários, geradores de conteúdos e empregos. Não há espaço para ilusão; a grande mídia só dá atenção ao Carnaval durante dois meses por ano. E a cadeia produtiva da festa precisa girar os 12 meses. E, sem mídia, nada flui.

***

A noite de sábado em terras portelenses entrou para a história pela inauguração do busto de Monarco. Linda e rara homenagem a um grande baluarte em vida. Veja o vídeo que fiz e compartilhei no Facebook da Rádio Arquibancada.

 

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